quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Nostalgicamente metamórfico

sexta-feira, de um dia qualquer de um ano qualquer

Querido diário:

Hoje, pela primeira vez, em muitos dias de conversa(secretas) com você, não vou conversar de minha rotina. Vou contar o meu dia de um jeito diferente. Agora são exatamente oito horas e eu não fui ser um prostituto. Não fui me maltratar com poluições, nem barulhos nem nada. Meu chefe deve estar puto comigo. Aquele predio imenso que trabalho é broxante, de longe da avistar ele e de longe tenho vontade de fugir. Ontem percebi que a parte mais importante do dia foi a chegada ao meu trabalho: subir elevador. Como era um prédio de comércio era raro ver uma criança junto, porém conhecidentemente havia duas: um menino loiro de olhos azuis, quietinho e uma outra, irmã do menino, loira também, mas de olhos verdes, também quietinha. Precisei de dois andares pra notar as caracteristicas dos dois. Os próximos quatro andares um sentimento nostálgico me envolveu, minha infãncia passou por minha cabeça.

Olhei para aquele circulo de ferro azul e vermelho girando e sai correndo na direção dele, subi no gira-gira e girei, girei e girei. O céu azul, com nuvens apenas pra fazer sombra deixava o dia ótimo como aqueles tempos de infância. Depois do brinquedo que gira, fui para o que balança, dessa vez era amarelo. Interessante de como a ferrugem do playground não existia naquela época, talvez não havia mesmo, ou talvez não era esse o importante, e sim o prazeroso vento batendo em meu rosto antes de eu pegar impulso suficiente pra saltar uma distância maior do que ninguêm nunca havia conseguido. Assim como diria John Lennon: "you may say I'm dreamer..." eu era um sonhador desde criança.

Depois do sexto andar olhei pros olhos azuis que olhavam os meus castanhos. E quase choguei fora minha meu orgulho masculo, quase chorei. E pra conseguir guardar o que parecia litros de água, demorei mais quatro andares.
Comecei a comparar as minhas duas vidas: de jovem e a de agora, adulta.Mais quatro andares pra manter minha machesa.

Quando sete as aulas eram maravilhosamente boas, aprender matemática era algo extraordinariamente extraordinário, o recreio de corridas e futebol, de provocações de meninos contra as meninas, eram magnificamente magnificos. Porém aos vinte e sete anos, o trabalho era rotineiro, previsivél, monótono e principalmente chatamente chato. Aos catorze anos era um jovem sonhador, com esperanças e altamente rebelde. Aos trinta, conformado. A rotina e a tranquilidade é igual a ''felicidade".

Quase desistindo de pensar, percebi que faltava ainda 10 andares. O prédio era fobiamente alto. E então esquecendo do passado e pela primeira vez em muitos anos, tirei a camisa de dentro da calça social preta, soltei os botões do palitó...
E na minha mente eu cantava alegremente:

Devia ter amado mais, ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais

Ter feito o que eu queria fazer...

E rapidamente rapido e decididamente decidido apertei o botão do elevador para voltar ao térreo. Voltei, larguei minha maleta. E corri, corri igual a mais de trinta anos atrás, sem objetivo algum, baguncei o cabelo e passando em frente a uma loja de skate, joguei meus sapatos negros fora, e substitui pelas pantufas de skate e um skate. E mais uma vez sem objetivo algum andei de skate por aí, fugi do centro e fui até a praia (pelo menos, há praia na maldita cidade). Fiz inúmeras loucuras e até me lembrei de manobras que pensava ter desaparecido de minha memória.
E querido diário, hoje pela manhã dormi até meio dia, comi uma gororoba que eu mesmo fiz, e a tarde fui a praça e me apaixonei denovo. Era uma menina linda. Bom não perdi meu tempo. E a tarde, bem... outro dia tomo coragem e le digo o que aconteceu, só passei aqui pra contar pra você, o que queria te contar na pagina anterior, mas nao sabia como, afinal eu só tinha doze anos.

6 comentários:

Jonis disse...

Maravilhosamente maravilhoso. Adoro sua nostalgia, me proporciona as melhores leituras!

Jaque :D disse...

nossa apavorou, curti muito *-*

Bruno disse...

velho, esse texto ficou muito bom. tá com emoção, tá nostálgico. realmente, eu curti...

Jonis disse...

Ta nostalgico?? Nãão, quase nada!

Bruno disse...

tá, foi mal, eu paro de comentar.

Gu disse...

aaa...vai chupar uma bala de iogurte :D com tempero de coentro, galinha e colorau! (pega no meu...pé!)